sábado, março 22, 2008

A Alforreca - parte VIII

Voltando a terra o macaco saltou para a árvore com uma ligeireza nunca vista.

Procurou entre as folhas, não encontrou. Explicou então à alforreca que algum companheiro o levara para longe o que o obrigava a demorar-se em pesquisas; no entretanto que fosse ella contar o caso ao seu senhor; que devia estar ansioso por vê-la chegar antes da noite.

Assim procedeu o bicho.

El-Rei, que a esperava e que a escutou, enraivecido por tamanha ingenuidade, para não lhe chamar coisa mais feia, ordenou que malhassem no bicho à pancada.



quarta-feira, março 19, 2008

A Alforreca - parte VII


Então o mono, disse cortezmente, que era uma alta honra o assim tornar-se util a sua magestade; acrescentou porem, que agora se lembrava de ter deixado o figado dependurado n'um tronco de árvore.
Explicou como o figado era uma coisa bastante pesada, um empecilho que elle costumava pôr de parte; habitos de familia, já o seu avô fazia o mesmo; e concluiu que era melhor voltarem para trás.
Não pôs objecções a nadadora.

sexta-feira, março 14, 2008

A alforreca - parte VI

Porém, a meio da travessia, pergunta o mono:

- Que pensa você que vão fazer de mim na sua terra?

A alforreca deveria agora ser discreta, encapotar as respostas em evasias, mas oiçam lá o que ella deu em troco:

- Eu lhe digo: meu rei ordena ao senhor macaco que arranque o proprio figado, o qual vae ser servido à nossa soberana enferma e salvá-la da morte.

terça-feira, março 11, 2008

A alforreca - parte V


Não tarda muito a abeirar-se do paiz onde vivem os macacos; por felicidade, além está, um lindo mono, num ramo.


- Bons dias senhor macaco. Eu venho aqui expressamente falar-lhe d'um paiz longinquo, muito mais bello do que o seu, situado além das ondas. Alli não há estações. É a terra da amenidade do clima; alli constantemente amadurecem aveludados fructos saborosos nas copas das árvores repolhudas.


O macaco achou gracioso isso de ver novos paizes.


- Ao largo amiga!

domingo, março 02, 2008

A Alforreca - parte IV


Por aquelles tempos, a alforreca, como qualquer bicho das águas, era um animal gracioso, de contornos esbeltos, com cabecinha, olhinhos, mãosinhas e com a competente cauda titilante; lá vae, oceano fóra...

A Alforreca - parte III


Mas nem os dragões escapam às duras provações da existência!
Ainda nem um mês se passara, quando a augusta soberana caiu doente.
Reuniram-se os doutores em conferência, que tiveram de ser francos, de declarar que a sciencia - já n'aquella epoca se enchia a bocca com a sciencia - que a sciencia nada mais podia fazer e que um angustioso desfecho era de esperar-se.
Do seu leito de enferma, agita as tremulas patinhas a rainha, que diz:
- Uma só coisa me salvará: arranquem o figado a um macaco vivo e consintam que o devore; recuperarei a saúde...
- Estás louca minha querida! - Não poude reprimir o rei.
- No figado do mono alguma coisa virá, alguma particula estranha, senhor, que me salvaria!
Julgava merecer-lhe meus affectos. Dê a coroa a outra espousa, consita que volva ao ninho de meus paes... - sufocava-se em soluços, a rainha.
O rei dos dragões não queria passar entre as damas, por um dragão cruel. Satisfaça-se pois o capricho da rainha.
Mandou chamar a sua escrava mais fiel e dedicada, a alforreca, e confiou-lhe a espinhosa tarefa.